Filhos biológicos também precisam ser
"adotados"
Imaginar que a adoção refere-se somente a filhos não
biológicos pode ser um engano e a idealização de filhos que
serão do jeito que eu quero que sejam pode ser a origem da
insatisfação e infelicidade de muitas famílias.
A maternidade, a paternidade e a construção de uma família
pela chegada dos filhos, além da alegria e sentimento de
realização podem dar origem a algumas situações, que passam
despercebidas e no futuro serão causas de insatisfação.
Fantasias e expectativas não realizadas quase sempre estão
presentes em tais situações. A chegada do filho cria a figura
do "herdeiro" e as fantasias e as expectativas fazem com que
pais e mães construam "castelos" que acabam enclausurando seus
filhos em traumas de consciência que muitas vezes os
acompanham por toda a vida gerando infelicidade e
insatisfação.
Um filho não vem ao mundo para resgatar um casamento que não
vai indo bem, ou substituir um ente querido que se foi.
Há que se entender que este novo ser tem seus próprios
desejos, anseios e que são e precisam ser diferentes dos de
seus pais.
Para Freud em Romances Familiares (1909) "Ao crescer, o
individuo liberta-se da autoridade dos pais, o que constitui
um dos mais necessários, ainda que mais dolorosos, resultados
do curso do seu desenvolvimento."
Idealizar um filho homem e receber uma menina, idealizar um
filho saudável e receber um bebezinho que não corresponde a
este ideal são situações do mundo que vivemos e não do mundo
que sonhamos.
Para alguns pais viver mundo dos sonhos é a única forma
possível, a filha menina é uma frustração e a criança que
necessitará cuidados especiais é um pesadelo.
A primeira reação é a de que o mundo desabou em nossas
cabeças, todos os sonhos caem por terra, surgem então muitas
perguntas: Como será a vida dele? Ele vai sofrer? Serei capaz
de cuidá-lo?
Com o tempo uma nova relação se estabelece, agora sim com o
filho que nasceu e não com o filho que queríamos que nascesse
e ai pode-se aproveitar as alegrias da maternidade e da
paternidade. Muitas vezes é um trabalho duro e que a
psicoterapia pode ajudar neste momento.
Em outros casos os "castelos" desmoronam, quando os filhos
crescem e realizam suas escolhas e que são diferentes (ou até,
muito diferentes) das expectativas de seus pais, seja em
pequenas coisas como não querer tomar o leitinho que a mamãe
fez, ou vestir a roupa que ela escolheu, ou em situações mais
complexas como escolhas de uma nova profissão, da orientação
sexual, religiosas. Novamente o mesmo sentimento: Tudo que fiz
foi por água a baixo, tanto investimento, tantas noites sem
dormir, onde foi que eu errei....
Adotar o filho que temos significa abandonar o mundo das
idealizações, nossos planos embora feitos com afeto e carinho
precisam comportar os desejos e anseios do outro, nossos
filhos precisam entender e validar suas escolhas de forma que
assumam as responsabilidades e conseqüências das mesmas,
pensando suas questões e conquistando seus caminhos, o filho
que temos pode não ser o que queremos, mas ele é capaz de
fazer escolhas diferentes das nossas e que muitas vezes não
concordamos e podemos até achar que não é a melhor opção, pois
ao nosso ver ele ira sofrer...
No espaço terapêutico muitas questões podem ser pensadas, o
que hoje parece uma situação "inconcebível", "inaceitável"
pode ser vista de outra forma, o importante é que pais e
filhos através do pensamento possam elaborá-las e assim pais e
filhos podem estar mais inteiros e fortalecidos nesta relação
tão necessária e dolorosa que é os crescimento.
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